quinta-feira, 3 de novembro de 2016

"P'rá mesa!"

A vida faz-nos crer que somos todos crianças a brincar aos adultos. Estamos sempre à espera do momento tcharam, aquele em que nos tornamos adultos, mas esse momento nunca chega. Somos sempre os mesmos mas com uma cara e um corpo que não pára de amadurecer (sinónimo).
Mas se somos sempre miúdos, nesse caso, quem toma conta de nós? Medo. Acendam as luzes!

Os pais são os primeiros supostos adultos que conhecemos. Enfim, crianças com tamanho de adulto, digamos. Muitas vezes também eles querem chorar, atirar com o prato da sopa ao chão, berrar, espernear e morder o colega de trabalho, mas a diferença é que correm o risco de ser internados. Comprimido, camisa de forças e nunca mais ninguém lhes põe a vista em cima.
Esses embustes, ou fraudes de gente adulta, ensinam-nos a ser gente, a comer, a falar, a ter educação, a sermos dignos e honestos, enfim, a sobreviver e a sermos finalmente adultos, o que quer que isso seja. E nós, como bons aprendizes, vamos copiando e aprendendo o que é ser gente grande. Inicialmente queremos ser como eles, sair, conduzir, fumar, viajar, vestir o que nos apetece. E assim fazemos: pagamos contas, fazemos contratos, fazemos compras, comida. E trabalhamos que nem uns cães para poder fazer tudo isto. Marcamos reuniões importantes onde discutimos assuntos organizados por tópicos, os quais temos que desenvolver para resolver esses assuntos. Às vezes são importantes, outras um mail ou um aviso resolveria o problema. Mas fica sempre bem reunir pelo menos uma vez por semana. Nestas reuniões de adultos, há sempre tempo para viajar, olhar para os nossos pares e imaginar como são quando chegam a casa ou reparar em determinados tiques e inventar uma alcunha engraçada. Tem cara disto ou daquilo. 
Tentamos fazer cara séria, respeitar e ceder o mais que podemos, quando  o que realmente nos apetece é rir e fazer piadas com tudo o que vemos. Queremos andar de bicicleta e carrossel sempre que podemos com a desculpa de que é para acompanhar os miúdos, fazer surf, bunji-jumping, no verão, fazer bombas na piscina, fazer o croquete e rebolar na areia até ao mar, andar de baloiço e fazer lego com os sobrinhos. 

Mesmo querendo escapar, somos chamados à realidade a qualquer hora, própria ou menos própria. 'Acordei, quero leitinho, não quero tomar banho, não quero dormir, não quero ir à escola, tenho cólicas...' Ou para quem não tem filhos, as finanças ou o Imi tratam de chamar os Exmos contribuintes à realidade.
E quando acordamos e descobrirmos que somos nós na berlinda, não queremos mais brincar aos grandes. Queremos dizer "rebenta a bolha!", que tudo volte a ser como dantes, simples e divertido de manhã até à hora em que nos chamavam para jantar.

Bom, por hoje chega de escrita.
Há um jantar para pôr na mesa.