quarta-feira, 16 de março de 2011

Soltem os Mutantes

O que nos distingue dos animais, de entre muitas coisas, é o facto de sermos racionais. Isto não significa porém, que consigamos sempre agir como tal. Porque vivemos em sociedade somos 'obrigados', também, a viver segundo determinadas regras. Regras essas gerais, de boa educação e convivência, que não sendo rígidas, inquebráveis, ou invioláveis, são principalmente regras onde deve imperar o bom senso. Mas esse, varia tanto de pessoa para pessoa que chego mesmo a pensar que devia ser proibído. 

Muito embora nos distanciemos da outra espécie, somos por vezes assustadoramente parecidos com eles. Abutres, leões, mabecos, ratos, cães, macacos. Há-os de todas as qualidades, tamanhos e feitios. Há mesmo quem compare a nossa sociedade à dos animais, onde cada espécie tem correspondência com os diversos sectores. É uma teoria bastante válida. Podemos avançar que por vezes uma marradita ou um pequeno coice dá muito jeito e resolve pequenas quezílias. Em todo o caso, já lá vai o tempo em que tudo acabava com a frase, 'Vamos lá para fora resolver isto mano a mano.' Será?

Sabemos pois, estar, respeitar, sorrir, ser simpáticos, cortêses, educados... enfim, tudo o que de melhor um ser humano pode ser. Até ao dia. Sim, esta é a frase da casa. Somos todos 'sorrisinhos' até ao dia. E é deveras engraçado observar a mutação que acontece nas pessoas, quando chegam 'esses dias'. É um processo de transformação do estado humano para o animal, que decorre em câmara lenta. Do tipo filme cómico, quando uma das personagens grita 'Nãaaaaaaaaooooooooo!', durante cerca de 5 segundos. Hilariante. Tenho a certeza que estão neste momento a visualizar a situação. Todos nós mantemos sempre uma postura correcta e adequada a cada situação. Tentamos. Pelo menos até àquele momento em que alguém incoveniente faz uma insinuação ou tece um qualquer comentário que é tomado como uma calúnia. Lá se vai o chá todo. Lá se vai o berço e o sangue azul. Parecemos então possuídos pelo espírito da Peixeira do Bulhão. Só falta a mão na cintura. Este é o último suspiro humano. A transformação está dada.
É nesse momento que nos aproximamos, a título de exemplo, de um canídeo ou de um felino (conforme os gostos). Atacar, morder, saltar para cima da presa é tudo o que queremos. É o instinto, o que podemos fazer? Entretanto, enquanto passa e não passa a Reacção, ficam os vestígios de gente mentalmente descabelada, assaltada, arranhada e por fim espancada.

De qualquer maneira, tudo na vida acaba por passar. E a mutação também. Terminado o combate uns sacodem-se outros lambem as feridas. Despem-se as garras e os dentes afiados, pegamos na mala e deixamos a vida selvagem para trás.