quinta-feira, 11 de abril de 2013

'O meu Tio'

'Aqui em casa, ao matabicho, comemos ovo estrelado, bacon e café com leite! pá, tens que comer, chinesa!' (leia como se fosse gago, como ele).

Apreciava um bom matabicho, e como era para ele, queria dar aos outros o que gostava de comer. Para sabermos que era bom, ou para sabermos como era bom o que ele gostava.
Lá tive que comer. 'Tó Manel, eu não como a parte branca do ovo, vou ficar mal disposta...'. 'oh, garota, come o ovo, pá!, não ficas nada mal disposta, chinesa!'. Comi. E fiquei. Maldisposta. 
Passados tantos anos, não me esqueço nem deste episódio, nem de como gosto de ovo estrelado e da sua parte branca.

Tinha destas coisas. Como um marreta. Quando em parelha com o meu pai, era uma comédia. Teimava naquilo que achava que era melhor, para ele e para os outros. Tinha muita graça, quando os dois davam início ao 'Muppet show'. 'Tás maluco, pá, Zé!, aquele coise do gripe azur... é maningue nice!'.  'Oh Tó Manel, és doido!, pá, o gajo caiu 5 quilos prá baixo'. E podiam ficar neste registo um dia inteiro. Eles não se incomodavam. Por outro lado, quem estava em redor, ensandecia.

Muito se pode dizer do meu tio. Muitas histórias, muitas memórias... tantas quantas as infindáveis historias que contava.
De entre muitas, recordo duas que marcaram a nossa infância, e que criaram no nosso imaginário, um cenário indescritível: Tinha lutado com um elefante e por isso tinha o dedo anelar torto (na verdade foi um acidente) e  tinha moedas alojadas na garganta, as quais não conseguia tirar. Fez-nos acreditar durante anos que era verdade.
Tinha sempre um episódio pronto, como se tivesse estado a preparar para entreter quem viesse. Falava acerca da sua vida, desde a infância com os seus pais e seus irmãos, nas aventuras com o Zé Quinhocas, das suas passagens pelo Sudão, África do Sul, da sua terra -Moçambique - e da sua paixão, o seu filho.
Obrigada Tó Manel, pelas tuas histórias, pela tua boa disposição e pelo teu carinho. 'Possa pá!'.
See you.