sábado, 20 de novembro de 2010

'Vejo luz, logo sou daltónico'

Quantas personagens tem cada um de nós? Pelo menos, 'cerca de muitas'.
É legítimo, mas no mínimo inocente, pensar que cada um de nós é sempre o mesmo independentemente das situações ou intervenientes com os quais nos envolvemos. Somos sempre nós mas indiscutivelmente vários 'nós'. Multiplicamo-nos quase como se tivessemos um distúrbio mental, do tipo 'dupla personalidade'. Bom, em alguns casos, há que dizê-lo com frontalidade, a realidade não se confunde com a ficção e não há lugar a metáforas. E não são poucos. Em todo o caso, não é grave porque em maior ou menor grau somos todos um pouco 'duplos'. E triplos e por aí em diante. E não é mau. Também não posso afirmar que seja bom. É para mim a única forma que conheço de Ser. A razão é simples. Os outros. A nossa relação com os outros condiciona o nosso Eu. 
Há pessoas que só retiram de nós coisas boas. Somos completamente diferentes com uns e com outros. Há depois os que só fazem despoletar em nós coisas negativas ao ponto de começarmos a questionar perante o espelho, 'será um monstro que vejo perante mim?' Não penso que sejam casos isolados de pessoas más por natureza ou feias ou agressivas. A combinação é que não presta. É fraca, doente, pobre. Só traz nada. Muito de nada. Ou mais do mesmo.
Interessa falar de coisas interessantes. Chega de crises de qualquer género. Económicas ou existenciais. De qualquer maneira é bom encontrarmos 'eus' de todo o tipo para relativizarmos um pouco e sabermos o nosso lugar. Somos sempre Deus e Diabo, Sol e Lua, branco e preto. E cinzento também. Porque é preciso.
E então quem não gosta de ser o melhor que pode? Haverá alguém? Se alguém tem algo a dizer, que fale agora ou cale-se para sempre. Como? Ninguém? Prossigamos. 
Assim, queremos rodear-nos de pessoas do tipo UM (as que nos fazem ser melhores) que nos levantam, nos puxam, nos levam mais além, nos dão um empurrão quando precisamos dele. Não queremos ser puxados para baixo. Só queremos andar em frente, subir e sermos nós, na versão melhorada, integral e original.

A experiência é de facto uma grande fatia do conhecimento que conseguimos acumular ao longo da vida. Só depois de conhecermos dois sabores podemos dizer que gostamos mais de um. Faz sentido. Por isso só entendemos de facto coisas sobre nós próprios (e sobre os outros) quando interagimos com vários tipos de pessoas. Com umas somos melhores, mais engraçados, mais bonitos, mais brilhantes, mais altos, mais magros. MAIS tudo. Com outros somos tudo a menos.
Cada um vê o que quer como quer. A percepção que temos dos outros e vice-versa varia tal e qual um daltónico deturpa as cores que vê. Somos todos 'daltónicos' uns com os outros. Além disso, só vemos o que queremos ver, só vemos o que sabemos ver, da melhor maneira que conseguimos. E sabem de quem é a culpa? Obviamente da luz.

1 comentário:

Anónimo disse...

O maravilhoso deste fenómeno é a possibilidade de conseguirmos encontrar, em nós, sentimentos que nem sabíamos existir. E aprendemos, sempre. Todos nos ensinam. Sempre. Claro, se estivermos dispostos a isso. Se não estivermos, ficamos cada vez mais desesperados. Tal como na situação do E.T.
Eu, Alex